Provas do Enem são aplicadas aos privados de liberdade de todo o Paraná 12/12/2019 - 17:14

As provas do Exame Nacional do Ensino Médio Para Privados de Liberdade (Enem-PPL) foram aplicadas nesta terça e quarta-feira (11 e 12/12), em 28 unidades prisionais de todas as regiões do estado. Ao todo, 1.702 presos se inscreveram no concurso provido pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) para tentar uma vaga em um curso de graduação. Segundo o Inep, em todo país, 46.163 pessoas cumprindo penas ou medidas socioeducativas se inscreveram para as provas.

“Assim como no caso do Enem regular, a nota do exame permite que os presos tenham acesso à educação de nível superior gratuita, em universidades públicas que aceitam a prova como método de entrada ou por meio dos programas de financiamento estudantil do Ensino Superior, como o ProUni”, afirmou o diretor-geral do Departamento Penitenciário, Francisco Alberto Caricati.

A prova aplicada aos privados de liberdade é similar ao Enem regular e tem o mesmo nível de dificuldade. Ela é constituída de uma redação em Língua Portuguesa e mais quatro provas objetivas (Linguagens, Língua Estrangeira, Ciências Humanas e da Natureza), cada uma com 45 questões de múltipla escolha. A participação dos privados de liberdade é voluntária e gratuita.

“Aliada a um rigoroso sistema de disciplina e às oportunidades de trabalho profissional, a educação pode transformar o apenado e prepará-lo ao retorno do convívio social. Além disso, o acesso ao conhecimento traz, como consequência, a vontade de se transformar em pessoas melhores para o mundo”, ressaltou o vice-diretor da Penitenciária Estadual de Ponta Grossa, Willian Daniel Lima Ribas.

Justamente pela possibilidade de desenvolvimento pessoal, para o coordenador da regional de Cascavel, Thiago Correia, a prova é um importante quesito de ressocialização dos presos. “A gente encontra na educação uma forma de reintegração. Muitas dessas pessoas que estão fazendo o Enem se reavaliam durante o cumprimento da sua pena e se reencontram por meio da educação”, afirmou.

CASCAVEL – Na região que está sob a jurisdição dele, cerca de 140 presos responderam a prova. Destes, 88 fizeram o Enem na Penitenciária Estadual de Cascavel (PEC), 40 na Penitenciária Industrial de Cascavel – Unidade de Progressão (PIC UP) e outros 12 na Cadeia Pública de Toledo. “Nós sabemos que, por meio da educação, é possível reintegrar à sociedade essas pessoas que se perderam, em algum momento, seja por um crime violento ou por um crime não-violento”, destacou.

Correia lembrou ainda que, em muitos casos, detentos vão para o sistema penitenciário porque não tiveram oportunidade fora dele. “O analfabetismo é bastante expressivo em alguns setores do nosso país e, no sistema prisional ainda encontramos pessoas analfabetas. Para esse indivíduo, não se fala em reintegração, o que se fala é em integração à sociedade”, contou

“Nosso trabalho, nesse caso, é colocar a pessoa de frente com a educação. Ele precisa aprender algum ofício para que, quando ele sair da unidade prisional, ele não venha a delinquir novamente, ele saiba fazer algo e esteja profissionalizado e pronto para atuar na sociedade”, completou o coordenador de Cascavel.

A regional inaugurou, recentemente, uma sala de informática com o objetivo de possibilitar o ensino e a profissionalização à distância. “O estudo é um dos pilares do tratamento penal, mas não podemos deixar de lembrar que o trabalho também é essencial para uma boa ressocialização”, afirmou o diretor da Penitenciária Industrial de Cascavel, Henrique Dondoni.

MARINGÁ – Nas unidades do Depen da regional de Maringá, no noroeste do estado, 171 presos que cumprem pena nas unidades prisionais fizeram a prova. “Este foi o oitavo ano consecutivo que os presos fizeram o Enem nas unidades de Maringá, onde o número de inscritos neste ano foi 40,1% maior se comparado com o do ano passado, quando 122 se inscreveram. Já na regional, o número foi 36% maior, passou de 154 no ano passado para 210 este ano”, destacou o coordenador da área, Luciano Brito.

De acordo com Brito, a maioria dos custodiados que prestam o Enem-PPL está custodiado nas unidades prisionais de regime fechado em Maringá, mas 59 detentos do regime semiaberto na Colônia Penal e Industrial de Maringá (CPIM) também fizeram a prova. O Exame ainda foi aplicado na Penitenciária Estadual de Maringá (para 64 presos), na Casa de Custódia do município (48) e na Penitenciaria Estadual de Cruzeiro do Oeste (39). “A educação é base do nosso projeto de tratamento penal. Para as provas, os agentes possibilitam um ambiente seguro, e temos bons professores que nos ajudam a despertar nos presos a vontade de mudar de atitude”, enalteceu.

O coordenador destacou ainda o trabalho feito junto ao Poder Judiciário para que os presos consigam estudar.  “Para o ano que vem, estamos trabalhando para viabilizar aos alunos que atinjam bons resultados no Enem e que conquistam bolsas integrais junto às instituições de ensino superior autorização judicial para que possam, após a devida avaliação, frequentarem os cursos superiores no âmbito externo das unidades”, afirmou.

Para a professora Vilma Biadola, diretora do CEEBEJA Tomires de Carvalho, “o Enem é uma ferramenta que, além de possibilitar aferição do nível de aprendizagem dos alunos privados de liberdade, contribui para fortalecer o comprometimento deles no processo de ensino e aprendizagem”.

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