Presídio do Ahú guarda memórias que marcaram o sistema penitenciário do Paraná 09/11/2016 - 17:04

Mais de cem anos depois de iniciada a construção da então primeira penitenciária do Estado do Paraná, parte do Presídio do Ahú – como ficou conhecido – em Curitiba, cederá espaço para obras do Poder Judiciário, nos próximos meses.

Ao longo das décadas, muitos acontecimentos do estabelecimento prisional – que manteve presos até o ano de 2006 – passaram a integrar a história da própria cidade, assim como agentes do Departamento Penitenciário do Paraná (Depen) que trabalharam no local.

Um dos fatos mais marcantes foi a situação de rebelião envolvendo membros de facções criminosas, em que os presos atearam fogo ao prédio, nos anos 2000 (a última rebelião registrada no presídio). Na ocasião foram feitos dez reféns: oito agentes penitenciários, um pastor e um técnico.

Um dos agentes que testemunhou esse fato foi Paulo Afonso Cordova Miranda, que trabalhou por sete anos no presídio. “Neste dia, vários funcionários ficaram como reféns e o que mais chamou a atenção de toda a administração do local foi a sistematização que os detentos tiveram nessa ação, pois aconteceu após a troca de presos entre os estados, na qual detentos de uma facção criminosa acabaram sendo encaminhados para o Ahú”, conta ele.

Ele lembra que essa rebelião ocorreu no momento em que estava surgindo o crime organizado no País e assim que os presos da facção criminosa chegaram na penitenciária, eles organizaram o ato, colocando em prática técnicas e conhecimentos de tumulto e fuga que os presos do Paraná ainda não conheciam. “Essa foi coordenada por um grupo maior de presidiários, diferentemente das anteriores, que normalmente tinham dois ou três detentos do Paraná na sistematização do ato”, recorda o agente.

Marcelo Leôncio foi outro agente que trabalhou na penitenciária, tendo iniciado as atividades no local em 1991. O ex-funcionário explica que apesar de momentos de tensão, como a rebelião em que ele foi um dos reféns, o Ahú era um dos presídios mais tranquilos para se trabalhar, pois o convívio com os detentos costumava ser mais ameno.

No mesmo ano 2000, uma fuga cinematográfica ocorreu a partir do Presídio do Ahú. De acordo com o agente penitenciário Paulo Afonso Cordova Miranda, os presos conseguiram pegar a chave de um caminhão de lixo que estava no pátio da unidade prisional e fugiram atravessando um dos muros do presídio. No episódio, um policial militar foi baleado e morreu.

DESATIVAÇÃO - Após anos de histórias e sendo palco de eventos que marcaram o sistema penitenciário do Paraná, o presídio do Ahú foi desativado. Sua capacidade na data de extinção, em 2005, era de 584 vagas, mas sua lotação média mensal era de 790 presos, dos quais em torno de 80% mantinham-se ocupados, com atividades como limpeza, artesanato, produção de bolas, olericultura, manutenção, marcenaria e serralheria, num total de 54 canteiros de trabalho.

A saída dos últimos encarcerados do Ahú aconteceu em 2006 e, após o encerramento dos trabalhos, o espaço ficou aberto à visitação pública em uma fase de produção de eventos que retornassem aos fatos ocorridos ali.

O diretor do Museu Penitenciário, Edevaldo Miguel Costacurta, comenta que manter a memória desse presídio é fundamental para a história do sistema penitenciário do Paraná. “Seria importante deixar a estrutura do local, que é centenário”, defende ele.

De acordo como diretor, o acervo histórico do presídio do Ahú existe para arquivar os fatos que aconteceram durante o funcionamento do estabelecimento penal, por meio de fotografias, documentos e peças históricas que demonstram como era o cotidiano das pessoas que estavam custodiadas naquele espaço.

HISTÓRIA – Em 28 de abril de 1905, a casa do Asilo de Alienados entrega ao Estado o prédio do Hospital Nossa Senhora da Luz, localizado em Curitiba, para que este fosse adaptado como penitenciária. Nesse momento iniciavam-se os trabalhos de construção da então primeira Penitenciária do Estado do Paraná.

A reforma do local terminou em 1908 e, no ano seguinte, a Penitenciária de Curitiba (primeiro nome concedido ao presídio do Ahú) recebe os primeiros detentos. A capacidade do local no começo era de 52 celas individuais e foram transferidos da cadeia pública para a penitenciária 55 presos, sendo 49 homens e 6 mulheres homicidas.

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